As eleições de 9 de Outubro revelaram-nos, naquilo que respeita à Cultura e às actividades culturais, que teremos quatro anos de "simpática" estagnação. Adivinham-se cortes radicais nos apoios aos eventos e às instituições culturais e muito choro, muito protesto (a maior parte das vezes velado) e muito ranger de dentes entre aqueles que vivem da Cultura instituída e institucional. Assistir-se-á à prossecução de uma política de apoios públicos que continuará a privilegiar os "bonitos olhos" de quem estende a mão em detrimento da qualidade, da criatividade e do carácter inovador dos projectos apresentados, ou seja, a uma política que sobrevive através da indefinição e não através da clareza e da transparência na gestão dos processos, sem objectivos definidos, sem uma linha estratégica orientadora e com a ideia de economia criativa completamente posta de parte. Nada a que não estivéssemos habituados. Estes dias exigem aos agentes culturais criatividade, trabalho partilhado e bom senso. Eu não sou propriamente defensor de uma política cultural baseada nas subvenções públicas, precisamente porque entendo que os apoios dados pelos estados, pelas regiões ou pelas autarquias tendem a "partidarizar" aquilo que não deveria ser partidário e tendem a restringir a criatividade a padrões mínimos de conforto, como tal, preocupa-me mais a falta de critério com que são atribuídas as migalhas do orçamento da Região do que os cortes de verbas. Acredito, por paradoxal que isto possa parecer, que a crise abre uma janela de oportunidade para gente mais nova, para gente mais criativa, para gente que recusa a "estratégia da capela" que os apoios públicos fomentaram durante 35 anos. Para gente que quer trabalhar estabelecendo parcerias internas e externas à Região. Este é, de facto, o momento certo para repensar a Cultura na RAM. Prevejo, no entanto, que os responsáveis pelo sector estejam muito pouco interessados no assunto…
Artigo publicado na edição de hoje do Diário de Notícias da Madeira.
Artigo publicado na edição de hoje do Diário de Notícias da Madeira.
Comentários
Enviar um comentário