Ferrugem Americana


"Havia algo particularmente americano nisso - culparem-se a si próprios pela má sorte -, aquela resistência a ver a própria vida como podendo ser afectada pelas forças sociais, uma tendência para atribuir problemas mais vastos ao comportamento humano". A citação é retirada de "Ferrugem Americana", provavelmente o melhor romance que li este ano. Nele, Philipp Meyer, um nome a reter no futuro da literatura nas terras do Tio Sam, fala sobre a decadência, sobre o fim de uma era (ou se quiserem, sobre o fim do sonho americano). "Ferrugem Americana" é um romance duro, com óbvias influências de Cormac McCarthy e Faulkner. Houve um tempo das expectativas, dizia Meyer, numa entrevista recente. Uma pessoa nascia, crescia e ganhava direito a uma expectativa, “a de que ia ter um trabalho garantido desde que se esforçasse, e que isso lhe permitiria ter uma boa vida”. Era, diz o autor, o "sonho americano", que desapareceu. "Continuamos a nascer, a crescer, mas o trabalho não está garantido. Onde havia segurança, igualdade de oportunidades, há incerteza. Essa era uma história que era preciso contar, e ninguém estava a contá-la”. O romancista contou-a. E fez muito bem, digo eu.

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