"O nosso ridículo cresce na proporção em que dependemos dele"


Confesso que acho graça a algumas das coisas escritas pelo Filipe Malheiro. Hoje, voltei a achar graça. O dirigente do PSD clama contra o Governo da República e contra o facto do CDS alegadamente não exercer influência junto do executivo de Pedro Passos Coelho para "ajudar" a Madeira. Numa acção de comunicação evidentemente concertada com a Comissão Política do PSD, o cronista esquece-se de alguns pormenores nos muitos caracteres que gastou. Vamos a eles:

- em primeiro lugar, o primeiro-ministro e líder do Governo é Pedro Passos Coelho, do PSD, com quem Alberto João Jardim disse na recente entrevista à RTP-M que tinha boas relações. Então, meu caro Filipe, devolvo-lhe a pergunta: há uma razão objectiva para que AJJ não utilize a influência que advém, suponho eu, das "boas relações" com o primeiro-ministro e, recordo, líder do Governo, para "ajudar" a Madeira? Em segundo lugar, Filipe Malheiro esquece-se que o Ministro das Finanças é indicado pelo PSD. Voltamos assim à questão anterior, ao que acrescento: - então com quatro deputados na Assembleia da República, com boas relações com o Primeiro-Ministro e líder do PSD, qual é a razão para que Jardim não "ajude" a Madeira? Bem sei que na entrevista supracitada o (ainda) presidente do Governo afirmou diversas vezes que não tinha "pachorra" para isto e para aquilo. Se calhar, nem para governar...

- o cronista incorre no erro de diminuir a autonomia, coisa que o PSD-M se tem fartado de fazer nos últimos tempos. É que, meu caro, quando deixamos de nos conseguir governar com aquilo que está estabelecido, quando estendemos a mão, perdemos a autonomia. As coisas são assim em todos os momentos da vida.

- Filipe Malheiro reconhece que a Madeira precisa de ajuda. Nada de novo. Mas quem governou a Madeira nos últimos 35 anos? O CDS?

Hoje, no seu artigo de opinião, Malheiro incorre no erro habitual do seu PSD-M, ou seja, tira a água do capote e finge não ter nada a ver com o assunto. Finge que o PSD-M não andou, durante décadas, a pedir o reforço da autonomia em áreas como a saúde a a educação (lembro por exemplo, a questão da dupla tutela na UMa, a "regionalização" dos conteúdos educativos, a regionalização de todos os serviços de saúde, etc, etc, etc).

Durante décadas Alberto João Jardim não se lembrou que, constitucionalmente, caberia à República pagar algumas contas das duas áreas supracitadas.

Foi ou não foi Alberto João Jardim quem negociou com os sucessivos governos centrais diferentes pacotes financeiros, esquecendo-se sempre, por conveniência política, de incluir nas negociações as tais "obrigações" da República?

Meu caro Filipe, a política de "sacudir a água do capote", evitando assumir responsabilidades e "assinar papéis" deu o resultado que todos conhecemos. Quem a desenvolveu, desde sempre, foi o PSD-M. Porque quem governou, desde o início da autonomia, foi o PSD-M. É impossível escamotear.

O discurso à moda da Coreia do Norte - "o mundo está contra nós e há que resistir com todas as forças" - ou à Ali, "o comediante" - divertidíssimo ministro da informação de Sadam Husseim -, baseado no absurdo, já não pega. Era bom que Filipe Malheiro, especialista em comunicação, e dos bons, convencesse o PSD-M disso mesmo. Citando o escritor francês Pierre Laclos, "o nosso ridículo cresce na proporção em que dependemos dele".

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