O povo da Madeira merecia mais

Ontem, na RTP-M, Alberto João Jardim (AJJ) fez-nos a todos perder tempo. Numa sonolenta entrevista, o (ainda?) presidente do Governo Regional (GR) provou à saciedade que não tem condições para conduzir a Madeira a um novo paradigma de desenvolvimento. Se mais não houvesse, deixo aqui algumas das pérolas de AJJ.

Quando questionado sobre o brutal aumento dos passes sociais, o (ainda?) presidente do GR começou por negar a evidência e acabou a dizer que tinha os números, mas que dava "um trabalhão" consulta-los, como tal não fazia a mínima ideia dos valores em causa.

Sobre o pagamento de taxas de utilização dos serviços de saúde, Jardim limitou-se a dizer que não sabia quem pagaria o quê e quanto.

Falando depois sobre o agravamento do IVA, negou a evidência do aumento de preços inerente. Quem diz que os empresários suportarão os agravamentos não tem a mínima noção dos valores em causa e, sobretudo, do estado actual das empresas desta terra. Dizer que os preços não subirão quando o IVA aumenta 35% - valor a partir de Abril face ao valor anterior - na taxa máxima, 33% na intermédia e 25% na taxa mínima, sendo que na restauração a subida é de 147% mostra, indiscutivelmente, um absoluto desconhecimento da realidade.

Quando os jornalistas lhe perguntaram se ia despedir funcionários públicos, AJJ voltou à sua habitual estratégia evasiva e disse esperar que as reformas fossem suficientes para preencher a taxa de redução de 2% ao ano. Não tinha a mínima noção de quantos funcionários públicos tem a Região e de quantos estão em situação de reforma e pré-reforma.

Para além do desconhecimento, o (ainda?) presidente do Governo Regional fez o habitual exercício de desresponsabilização - se a culpa já foi da República, agora é da troika e da comunicação social - e, mais grave, garantiu que faria tudo da mesma forma. Defendeu o indefensável - as manutenções do "jackpot" na Assembleia Legislativa da Madeira, do Jornal da Madeira e da política de apoio ao futebol profissional, obras perfeitamente imbecis como a Marina do Lugar de Baixo - e, sobre a sua concepção de democracia, deixou esta pérola: "se fossemos um país independente" as notícias publicadas por correspondentes não arregimentados dos jornais do continente seriam consideradas "crimes de lesa-pátria".

Ontem, Jardim disse aos madeirenses que o desemprego iria aumentar e foi honesto quando confessou ser o "elo mais fraco" e estar "de calças na mão". Talvez essa percepção, o único exercício de lucidez ao longo do penoso momento televisivo, o tenha levado a elogiar a postura do Governo da República.

O povo da Madeira merecia mais, meu caro Alberto João Jardim. Merecia muito mais honestidade, muito mais rigor, muito mais seriedade. Merecia que demonstrasse vontade de mudar, merecia que tivesse mostrado ter aprendido com os erros que cometeu nos últimos anos e que essa aprendizagem fosse o princípio de um novo caminho. Mereciam, no fundo, o respeito que lhe guardaram ao longo de tanto tempo, sabendo que o bem que fez dar-lhe-ia direito à saída digna que o mal que tem feito não vai permitir.

Comentários

  1. AJJ demitiu-se no passado por muito menos.
    Pela 1ª vez vi um jornalista sem medo (sinais de mudança muito claros) que fez perguntas inconvenientes, afirmações polémicas, perante um ajj atrapalhado, sem argumentos e claramente (como o próprio confessou) com as calças na mão!
    Enfim, temos um presidente caquético, sem ideias e com medo dos seus seguidores.

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