Carta

Exmo. Senhor Líder Parlamentar do PS-M

Excelência:

Questiono-me sobre o que terá pensado quando soube da notícia que dava conta do facto do líder do Partido que também é seu ter escrito uma carta ao Sr. Primeiro-Ministro, exactamente na mesma semana em que um deputado do partido que também é seu escrevera para um Ministro.

Sem me querer atribuir os dotes de adivinhação de que evidentemente não disponho, creio no entanto ser fácil adivinhar o que, na sua reconhecida coerência, terá dito para os seus caros botões, num pensado momento de lucidez:

- boa;

Depois, noutro (re)pensado - desculpe a repetição e as que se seguirão - momento de lucidez e de coerência, fortalecido por um telefonema a um dos três independentes que formam o seu PS, escreverá certamente um belo e irrelevante texto no seu lúcido blog, no qual atacará ferozmente os políticos que escrevem cartas, denunciando problemas a quem de direito.

- Ainda bem que no meu PS ninguém segue semelhante estratégia, caso contrário eu teria de mudar de ares, terá pensado Vossa Excelência, com a lucidez e coerência habituais, antes de abotoar os seus caros botões e partir para mais uma reunião com o líder do partido que, constará por aí, também será seu.

Creia-me, gosto de si como gosto de Pessoa, pelas múltiplas personalidades que se revelam numa só personagem. Devo reconhecer, porém, que Vossa Excelência não terá a profundidade ou a riqueza estética do poeta, mas os seus lúcidos e coerentes ensaios acabam por transformar-se, para o leitor, em momentos de saudável diversão, sobretudo quando lidos a um mês, ou dois, de distancia da criação.

Despeço-me com respeitosos cumprimentos, pedindo-lhe para que continue, com a lucidez e coerência que todos lhe reconhecem.

Gonçalo Santos

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