Imediatismo

Jeremy Lin? Who? What the fuck is going on?, perguntou Kobe Bryant na conferência de imprensa que lançava a partida entre os Lakers e os New York Knicks no final da semana passada, referente à Época Regular da NBA. Bryant fora surpreendido por uma pergunta de um jornalista que queria saber quais as perspectivas de uma das maiores estrelas da competição em relação ao previsível duelo com Jeremy Lin, jovem sino-americano, proveniente da Universidade de Harvard e absolutamente desconhecido mesmo dos mais fanáticos adeptos na Liga Norte-Americana de Basquetebol. Lyn jogara uma época numa equipa menor. Quase não foi utilizado e acabou dispensado. Tentou a chance numa segunda formação. Andou por lá uma semana e veio embora sem um minuto sequer em campo. Foi parar aos Knicks sem perspectivas de ser mais do que um bom rapaz para aparecer nos jogos de treino contra os titulares. O destino, contudo, prega algumas partidas e face à onda de lesões que deixou quase KO a formação de Nova Iorque, Lyn subiu ao campo e, imagine-se, num mês fez 18 jogos, todos com uma média superior a 20 pontos. Relançou os Knicks e, esfreguem os olhos, fez 38 pontos contra os Lakers, nas barbas de Bryant, que deve ter saído de campo ainda mais aturdido do que quando ouviu a pergunta na conferência de imprensa. O resto, é o exemplo de como o imediatismo reina nos dias que correm. Ainda sem se perceber se Lyn é um bom jogador ou se vive uma maré de sorte, a Time Magazine deu-lhe a capa. Os media norte-americanos apontam-no como uma estrela segura. Criaram-se páginas na net e grupos de fans no Facebook que contam com a adesão de milhões de cidadãos desta aldeia global. Num mês, repito, num mês, Lyn ascendeu de perfeito desconhecido - que certamente acabaria a carreira numa liga menor na Europa - ao panteão dos eleitos, um quase semi-Deus idolatrado da China à Islândia. Provavelmente, aos primeiros lançamentos falhados, aos primeiros jogos menos conseguidos, cairá o mito. Porque as estrelas meteóricas são assim, destinam-se a brilhar até à próxima "história", até, por exemplo, ao aparecimento de outro rapaz pobre, aparentemente sem talento mas que se revelará, ao fim de alguns dias, uma vedeta da dimensão do Jordan. Até que apareça outra história que mostre uma vitória do bem sobre o mal, da crença sobre a descrença, que releve o trabalho honesto. Uma daquelas histórias de que os americanos tanto gostam e que exportaram para o mundo.

Comentários