Deve ser cubano

Um pouco de cultura é uma coisa perigosa, escrevia Alexander Pope. Seguindo a ideia à letra, o Governo Regional resolveu, mais uma vez, cortar no orçamento da Cultura que neste momento é praticamente igual ao do Jornal da Madeira. Acusam-me muitas vezes de estar sempre a dizer mal do executivo e assim, desta vez - uma vez sem exemplo, prometo - decidi concordar com uma decisão estratégica. Porque Cultura, minhas senhoras e meus senhores, é o que diariamente se lê nas páginas de opinião do referido matutino. Ah, quão belas são as prosas daquele verdadeiro bardo da Madeira nova, que tantas e tantas vezes deprecia a palavra independente! Quão inteligente é o cavalheiro! E que bem escreve! É um verdadeiro Eça com óbvias influencias da Margarida Rebelo Pinto. Ah, e quão sábios são os textos assinados com o peso da liderança. São ternos e envolventes, arrebatados e arrebatadores mananciais de sabedoria. Alguns, devo confessar, lembram-me, por oposição, as Catilinárias, de Cícero. Ah, e quão actuais são os discursos que os maiores de entre os deputados publicam no Jornal da Madeira uma semana depois de os terem debitado no Parlamento! Verdadeiras análises sociológicas da bela ilha da Madeira e todos, repito, todos, pérolas da boa argumentação e finos exemplos de retórica. Chego facilmente à conclusão que a Cultura, com K grande, está ali, lol! Pa k q querem gastar mai dinheiro com merdas quando tá tudo ali, ah!? Para k querem saber mai coisas, lol? Desta vez, devo confessar, concordo que o Orçamento da Cultura seja praticamente igual ao do Jornal da Madeira porque, meus caros, o mundo está todo ali, lol! Quem é esse gajo Pope? Algum cubano, não! Publicado na edição de hoje do Diário de Notícias da Madeira.