Sobre uma fotografia

Ontem estava por casa, a remexer num computador velho de dois anos e descobri algumas fotografias que andava a coleccionar (na minha forma muito própria de coleccionar coisas, guardando-as e perdendo-as para as voltar a encontrar depois, sempre na medida das minhas necessidades e dos desejos próprios dos objectos). Esta é uma delas. Se calhar aquela de que mais gosto. Fora aprisionada enquanto vagueava, creio que levemente embriagada, pelo misterioso universo da rede. Fizera-se à estrada, entretanto, após me ter dado a beber vários Gin tónicos levemente tóxicos, cantarolando, como o Paolo Conte, "Oltre le dolcezze dell’Harry’s Bar e le tenerezze di Zanzibar c’era questa strada… Oltre le illusioni di Timbuctù e le gambe lunghe di Babalù c’era questa strada…". Ontem voltou. Entrou sem bater à porta, sem sinal de dono, com ar de quem precisava de protecção. Ralhei-lhe, mas permiti que se voltasse a sentar no sofá. Ficará o tempo que quiser. Ficará sempre o tempo que quiser. "…Et alors, Monsieur Hemingway, ça va?…"

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