Princípio de Malaquias

É espantoso o que uma cabeça oca pode conceber. É um perigo iminente uma cabeça vazia. Instava enchê-la de pensamentos, o mais depressa possível, antes que fosse tarde e ela própria gerasse ideias nascidas lá dentro, sem nenhuma relação com o que existisse cá fora.

Manuel de Lima foi um bom ficcionista português, tão bom que a intelectualidade lusa resolveu, para bem dele, ignorá-lo por completo. Nem sabe a sorte que teve. Livrou-se de um bando de chatos que lhe remexeriam os baús e a vida e que escreveriam coisas sobre o que ele escreveu, interpretando abusivamente frases e textos que muitas vezes são apenas isso, frases e textos, o que justifica plenamente a sua existência, enquanto frases e textos.

Recordei-me dele enquanto mestre do non-sense – a classificação foi-lhe atribuída por Luiz Pacheco, um amigo – a propósito do mundo e de algumas personagens - que não são nem serão, sendo por isso - que me lembram representações de Malaquias – ou a História de um Homem Barbaramente Agredido, que são mesmo o Malaquias, com acções que respeitam na íntegra o Princípio de Malaquias que por falta de querer, eu não vou traduzir aqui. É assustadoramente real a proliferação de Malaquias. O Malaquias quer dominar o mundo, é o que é!

Se este não é um texto político, é no fundo um texto político. Se é incompreensível, traduz na verdade uma realidade que começa a sê-lo também. Se tem repetições são propositadas. Se é mau, azar de quem o leu! Se nada significa tem justificada a sua existência enquanto oposição sarteriana ao ser significando uma construção mental que só por si o torna vivo.

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