Vítimas do Mau Gosto

À vila chega-se através de um túnel que desagua entre prédios de gosto duvidoso e uma pós-moderna bomba de gasolina, estrategicamente plantada sobre a ribeira. O cais da vila está interdito porque uma obra com diversos responsáveis - a melhor forma de não ter responsável nenhum - numa arriba sobranceira terá corrido mal. O mar da vila é castanho. É castanho no Inverno. É castanho no Verão. Castanho cor de merda, cor da arriba desbastada para proteger uma marina que custou mais do que um hospital, mais do que a própria teimosia pode justificar antes de ganhar contornos patológicos. As casas da vila estão abandonadas. O cinema da vila, tão parecido àquele que era gerido pelo Alfredo, onde o Salvatore (Totó) aprendeu a gostar de filmes, está fechado há anos, ao contrário do envidraçado centro cívico, desnecessário se alguém se tivesse (a)lembrado de recuperar o velho cinema Sol, onde um propositado buraco na parede traseira permitia que as películas fossem projectadas a partir das bananeiras. A vila é um paradigma da estratégia de desenvolvimento da Madeira Nova e da Madeira Contemporânea, onde os tributos ao mau gosto e ao novo-riquismo substituem a herança que recebemos e que por reproduzir as nossas idiossincrasias deveria ter sido exponenciada. Como a Madeira (Nova e Contemporânea), a vila morre lentamente. Há quem fale nos anos do João. Eu responderia que o João já deveria ter partido há anos. Mas creio que não morreremos de (pseudo)bombas. Seremos todos vítimas fatais do mau gosto!

Nota: a este respeito recomendo vivamente a leitura do artigo de João Welsh, publicado no Diário de Notícias online, intitulado "O Elogio da Diferenciação". Está tudo lá.

Publicado na edição de 18-05-2012 do Diário de Notícias da Madeira

Comentários