Bazar do Povo em chinês

Foi recentemente anunciada a intenção do Grupo Sá conceder a exploração do centenário "Bazar do Povo" a um empresário chinês.

A situação tipifica os casos em que o interesse público e os interesses legítimos de um empresário não se conjugam. Atente-se que não me refiro a negócios ilegais, a corrupção ou coisas que tais. Refiro-me, pura e simplesmente, a um caso em que dois interesses legítimos colidem e para o qual o poder político não tem muitas defesas.

Por um lado, a concessão pode contribuir para salvar cerca de 2.000 postos de trabalho, neste momento em sério risco devido à situação de extraordinária dificuldade em que o Grupo Sá se encontra. Não acredito, porém, que seja uma espécie de fórmula mágica, mas devo confiar na palavra do empresário.

Por outro lado, considero negativo para a cidade e, sobretudo, para o comércio "dito" tradicional da "baixa", a instalação de uma "megastore" chinesa, com dragões pendurados e tudo.

Para o comércio tradicional, é fácil perceber que numa época de crise profunda os consumidores olham mais para o preço do que para a qualidade dos bens que adquirem e nesse aspecto, é impossível concorrer contra uma loja chinesa. Se por um lado a opção serve o Grupo Sá, por outro não serve os pequenos lojistas de algumas das mais concorridas artérias do Funchal.

Para a cidade, parece-me amplamente negativa a ideia de ver um dos seus edifícios comerciais mais emblemáticos, um prédio classificado, marco de uma era, transformado numa espécie de "Shagri-la" de péssimo gosto.

Que fazer em relação ao assunto? Honestamente, não sei. A única coisa que sei é que não me agrada minimamente ver o Bazar do Povo transformado em loja chinesa, retirando valor a toda uma zona comercial. Se não fosse a malfadada crise, atrever-me-ia a propor que a Câmara Municipal do Funchal comprasse o espaço ao empresário transformando-o numa mais-valia para a cidade. Mas neste momento, parece-me que a ideia é muito difícil de concretizar. Mas nada impede que se debata a necessidade urgente de apresentar um plano de ordenamento comercial para a cidade.


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