Cultura de tolerância

Discordo de muito daquilo que o cidadão Martins Júnior diz. Separa-nos um oceano ideológico. Respeito, no entanto, o cidadão Martins Júnior. Respeito a firmeza das suas convicções e a sua fidelidade a elas. Respeito a sua coragem e a sua ousadia. Respeito a luta que travou e que trava e que no fundo é semelhante àquela que tantos Madeirenses, anonimamente ou de forma mais visível, travam todos os dias, que a ser ganha conduzirá inevitavelmente a uma melhor Democracia. Embora não concorde com muito daquilo que diz, defendo intransigentemente o direito que o cidadão Martins Júnior tem de dizê-lo. Porque entendo que a maior batalha a vencer neste momento, na Região, é a batalha pela tolerância. Necessitamos urgentemente de uma "revolução" cultural que introduza nos nossos hábitos quotidianos a cultura da tolerância. Que nos ensine, de uma vez por todas, a ouvir o outro e a contra argumentar sem que essa contra argumentação se situe no campo da ofensa mais ou menos pessoal. No fundo, a dialética (caminho entre as ideias) é a essência da Democracia. A responsabilidade de fazer a "revolução da tolerância" é de todos. Não só da maioria, que durante 35 anos fez da intolerância modo de vida, mas também de alguma oposição, nomeadamente de certas figuras mediáticas que me fazem pensar que um dia, se por acaso vencessem, desenvolveriam uma práxis persecutória semelhante à actual. É urgente, em todas as áreas, promover uma cultura mais tolerante, mais aberta e que privilegie um debate franco, permitindo dessa forma que mais cidadãos se envolvam nas causas públicas. Mesmo com alguns excessos, cometidos num tempo em que a revolução era presente, excessos de resto transversais, o cidadão Martins Júnior faz, há muito tempo, da argumentação uma arte. Por isso, é bom ouvi-lo. E se possível contra-argumentar. Porque (apetece-me ser hegeliano por momentos) tudo se desenvolve pela oposição dos contrários.

Artigo de opinião publicado na edição de hoje do Diário de Notícias da Madeira.

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