O caminho pra doutor

Não percebo a indignação e as dores de estômago com que certa esquerda recebeu o projecto do Ministério da Educação intitulado "ensino básico vocacional". Parece-me óbvio que um "pequerrucho" ou uma "pequerrucha" do sexto ano com três ou mais "chumbos" às costas tem um problema qualquer de inadaptação ao sistema de ensino tradicional que pode ter muitas origens, desde a desestruturação do núcleo familiar a limitações cognitivas.

Dar, a essas crianças, a possibilidade de terem efectivamente uma profissão, de aprenderem um ofício, não as excluindo do sistema de ensino - é bom lembrar que todos aqueles que forem incluídos no programa podem voltar ao sistema tradicional, pois o ensino básico vocacional garante, sempre, que os estudantes terão nos currículos as disciplinas nucleares de Matemática, Português e Inglês - não me parece discriminatório ou atentatório das possibilidades de cada indivíduo escolher o seu caminho. Será, antes pelo contrário, uma forma de combater o insucesso escolar e o abandono precoce da escola que, muitas vezes, é fruto da criação de falsas expectativas, continuamente frustradas.

Ainda hoje, a Federação Nacional da Educação (FNE), simpática e inútil associação, veio gritar contra o Governo que obriga as pobres criancinhas a, pasme-se, escolher "vias de menor respeitabilidade social". Ficámos todos a saber que, para os senhores da FNE, ser jardineiro, cozinheiro, electricista ou agricultor é escolher uma via socialmente menos respeitável sobretudo, digo eu, quando comparada com o absentismo que a inadaptação ao "caminho pra doutor" provoca, criando adultos com o 6º ano que nem para trabalhar na caixa do Pingo Doce têm habilitações.

Comentários