Abrir a janela

O escritor suíço Max Frish escreveu um dia que a tolerância é sempre um indício de que um poder é visto como seguro. Quando se sente em perigo, nasce sempre a pretensão de ser absoluto; nasce, portanto, a falsidade, o direito divino do seu privilégio, a inquisição. A práxis política vigente na Região comprova a hipótese explanada por Frish.
Vivemos com as janelas fechadas. Porque o poder estabelecido há mais de 30 anos é geneticamente inseguro, confundindo jogo político com pura cobardia política. Alguns avanços e alguns recuos não são mais do que sintomas do Transtorno do Pânico. A ansiedade conduz à insegurança, que leva à intolerância, que se traduz na falta de capacidade para dialogar, para ouvir, para discutir de forma séria e ponderada. A ansiedade cria condições para tomadas de decisão irrefletidas e para a construção de um muralha defensiva face a imaginárias ameaças externas, cuja argamassa são as frases feitas, muitas vezes transformadas em histriónicas ameaças de cissão que não passam de tiros de pólvora seca.
Como seria expectável, os níveis de intolerância, traduzidos, por exemplo, na verbalização de idiotices diárias sobre quem pensa ou age de forma diferente, têm aumentado na mesma proporção em que cresce o medo de quem ainda governa.
Porque todos os poderes são passageiros, a situação não seria tão dramática se não se tivesse transformado, ao longo dos anos, numa certa forma de fazer política que também fez escola em algumas franjas de outros partidos, que não governam, mas que demonstram ser tão pouco abertos ao exercício da dialética como quem actualmente exerce o poder.
Por ser óbvio, creio não ter a necessidade de avançar muito na ideia de que a práxis política vigente ramifica-se depois em todos os sectores da vida social, cultural e económica da Região, contribuindo para aumentar os níveis de conflitualidade, o que por norma diminui a qualidade do debate.
Não tenho por isso qualquer dúvida de que necessitamos, urgentemente, de uma nova forma de fazer política, na qual o debate franco e plural seja práctica diária e entendida como nuclear, dando o exemplo a toda a sociedade, contribuindo para que também ela se torne mais aberta e mais rica, porque mais diversa. É fundamental abrir a janela e deixar entrar ar fresco.

Artigo publicado na edição de hoje do Alternativa, jornal do CDS Madeira

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