Populismo irresponsável

Portugal necessita de uma profunda reforma estrutural que, necessariamente, implicará alguma dose de sacrifício. Essa reforma deve ser debatida em todas as esferas, económicas e políticas e culturais, sem preconceitos ideológicos ou de outra espécie.
Colocar-se de fora do debate, neste momento, é não querer ter uma palavra a dizer sobre o nosso futuro colectivo. Legítimo para um qualquer cidadão, ilegítimo para grupos ou partidos de poder
.
Avanço com alguns números, hoje publicados no Expresso. Num painel comparativo entre países da UE demográficamente e territorialmente semelhantes ao nosso (Bélgica, Finlândia, Grécia, República Checa, Áustria e Irlanda), Portugal tem o segundo PIB per capita mais baixo, depois da República Checa. Tem uma carga fiscal inferior em 4% à média da União e superior, apenas, à da Grécia e à da Irlanda.

No que respeita ao défice do estado, também só é superado pelo par acima referido.
No sector da justiça, tem mais policias e mais procuradores por habitante, sendo superado apenas pela República Checa no que respeita ao número de juízes.

Paradoxalmente, no nosso país um processo em primeira instância apenas fica resolvido, em média, em 417 dias. O país que nos segue na tabela, que lideramos de forma isolada, é a Finlândia, que se fica pelos 259 dias.

No que respeita à defesa, gastamos 2% do Orçamento, sendo apenas superados pelos gregos. Somos os terceiros que mais gastam em saúde, estamos em terceiro no número de médicos por habitante mas, curiosamente, em Portugal cada médico atende 1087 pacientes por ano, enquanto que na Republica Checa atende 3146. Nesta negra tabela de produtividade, só somos superados, negativamente, pela Grécia.

Num painel de 6, somos os quintos no que respeita aos gastos na educação e talvez por isso (ou não, porque está mais que visto que derramar dinheiro muitas vezes não resolve problema nenhum) só 64,4 % dos portugueses entre os 20 e os 24 anos têm o ensino secundário completo. Neste indicador, ocupamos um confortável último lugar na tabela! Curiosamente, temos uma taxa de licenciados mais alta do que a Áustria e a República Checa, mas a léguas de distância da Irlanda.

Os números são assustadores e mostram à saciedade que não temos tempo para populismos e para tiradas que visam, apenas, ganhar eleições. A irresponsabilidade paga-se caro, como os dados que referi indicam claramente.

Nota: alguns socialistas mais responsáveis já demonstraram vontade de negociar, porque perceberam o problema. É o caso, por exemplo, de Luís Amado.

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