2013

Se o último dia do ano é propício a balanços, o primeiro será mais favorável a previsões e por isso aventuro-me na tão dura quanto manifestamente inútil tarefa de prever. À falta de melhor para fazer nesta primaveril tarde de Janeiro...

Ficar-me-ei pela Republica, já que as minhas competências não permitem que me estenda ao mundo, por um lado, e por outro a minha posição na política da terra transformaria qualquer análise no óbvio acto de defesa da solução político-partidária que defendo e na qual me venho empenhando. Embora ache graça a políticos disfarçados de analistas e a analistas que no fundo, são apenas políticos, não gostaria de começar 2013 nessa posição.

Avançando, o Governo terá como testes principais os boletins de execução orçamental. A receita aplicada no Orçamento de Estado para 2013 isolou o primeiro-ministro e o ministro das Finanças, comprometidos irremediavelmente com um caminho que não admite qualquer desvio. Se a rota escolhida não resultar, se a execução orçamental mostrar a necessidade de mais austeridade, Passos Coelho terá, certamente, de procurar outra ocupação. Junho será assim um mês de pouco sono lá para os lados de São Bento.

O segundo teste - não necessariamente por ordem temporal - está obviamente relacionado com os afamados cortes de 4 mil milhões no Estado, cujos destinatários são ainda um mistério. De três hipóteses, uma: - ou fica tudo na mesma - a pior delas todas; - ou o Governo convence o PS a sentar-se à mesa - a melhor e mais longínqua; - ou assume sozinho a aventura. A troika pressionará, mas o instinto de sobrevivência de Passos também, em sentido oposto. A "bola" pode, eventualmente, sobrar para os socialistas, que a quererão "chutar" para o mais longe que as suas canelas conseguirem... Uma previsão? Só ao alcance de Deus e da troika, entidades que hoje nos regulam, quase que em parcelas iguais. Eu, humildemente, continuo a repetir: - um debate sério sobre que Estado queremos seria fundamental. Seja como for, o tempo urge e em Fevereiro deveremos ter notícias sobre o assunto. Boas ou más.

Outra ameaça, mas na minha opinião menor, é a das "autárquicas" do Outono. O PSD, mais do que o CDS, já começou a preparar um discurso justificativo para as derrotas previsíveis, discurso que passará certamente pela desvalorização do "score" eleitoral, baseada na ideia de que "é normal, em toda a Europa, que os governos em exercício percam eleições intercalares para outros órgãos". De qualquer forma, uma eventual hecatombe atinge mais os sociais-democratas, partido tradicionalmente ligado ao poder local, sobretudo do Tejo "pra cima", do que os populares, que não têm projecção autárquica significativa.

Resumidamente, só em Novembro - se lá chegar - Passos poderá respirar de alivio e dançar o corridinho, embora o tempo da dança possa ser manifestamente encurtado pelo Orçamento de Estado para 2014.

Pelo meio, há que contabilizar os efeitos de uma remodelação que alguns dizem estar para breve e, sobretudo, eventuais mudanças na estratégia europeia de combate à crise, algo que me parece ser tão difícil como o Sporting ganhar o presente campeonato.

Neste momento, e beneficiando da ideia de que o maior aliado de um político é a memória curta das sociedades, António José Seguro lá vai jogando tudo na hipótese de ser primeiro-ministro. Mas ao contrário do que por vezes leio, Seguro não tem "todo o tempo do mundo". Se a coligação chegar ao fim do ano, se as medidas propostas derem sinais de estar a resultar, ou se não conseguir mostrar-se mais responsável do que aquilo que tem sido na questão dos "cortes" no Estado, "Tozé" terá problemas graves para resolver, lá para 2014. Por enquanto, a rapaziada que marchou ao lado de Sócrates anda contida, à espera de recuperar parte do poder que perdeu há pouco tempo e por outro, António Costa anda mais preocupado com a Câmara de Lisboa - antecâmara para Belém e para as suas delicias.

Entretanto, e como o "mundo não pára", o professor Marcelo, o referido presidente Costa - que deverá ser reeleito em Lisboa com a perna direita dobrada sobre o pescoço - , o comissário Barroso e o engenheiro Guterres intensificarão a preparação para a eventual participação no filme "Eu quero ser Presidente porque é o meu sonho desde pequenino". O problema é que terão de andar sempre com um "olho no burro, outro no cigano", não vá o circulo abrir-se a mais pretendentes. Cavaco, por seu lado, sabe que o jogo está a chegar ao fim, mas não deixará de tentar manter influência sobre o Governo, sobre o país e sobre a escolha do seu sucessor. Não será por ele que Passos cairá em 2013, mas por paradoxal que possa parecer, o homem que nunca quis ser político procurará continuar a explorar ao máximo o conceito de magistério de influência. Dele, deve esperar-se que seja um actor principal e nunca uma mera personagem secundária.

Pelo meio, teremos os jogos da selecção, os concertos do Toni Carreira, os festivais de Verão, um filme do Oliveira, os golos do Ronaldo, as tiradas filosóficas dos concorrentes de uma qualquer casa de segredos, as "pegas" entre a UGT e a CGTP, cartazes do cada vez mais irrelevante Bloco de Esquerda, greves no metro, na Carris, nos cacilheiros, no metro do Porto, nos jogos do Sporting. Teremos uma briga entre PSD e CDS sobre a RTP e mais uma tentativa de privatizar a TAP. O desemprego aumentará, a insatisfação também. - embora Portugal não seja propriamente conhecido por prolongadas insatisfações, o que por si só justifica algumas das coisas que acima escrevi.

Os escritores queixar-se-ão de falta de apoios. Os actores também. Os músicos queixar-se-ão de falta de apoios. Os artistas plásticos também. Os agricultores queixar-se-ão da seca e depois das chuvas. Os pescadores da falta de condições. Os trabalhadores eventuais, eventualmente, queixar-se-ão da sua condição. Os pregadores pregarão. Os moralistas também. Os médicos queixar-se-ão do sistema e os utentes também. Os professores queixar-se-ão do ministro e os alunos também. Enfim, a TVI terá motivos sólidos para, diariamente, abrir o telejornal. E no último dia do ano, "os portugueses" tomarão a sua decisão mais importante: a escolha do vencedor da Casa dos Segredos!

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