Quando se é ignorante não se devia governar

Quando não se percebe o que é uma cidade, quando não se conhece a cidade, quando se acha que a cidade é apenas uma entidade abstracta, desprovida de alma, ou de almas, se quiserem, uma "coisa" que não sente e que não se sente, fazem-se obras como aquela que que desfigura a Avenida do Mar. Quando não se percebe que cidade mar se confundem, fundem-se, que o horizonte da cidade é o fim do mar, é o infinito fundo ou o fundo infinito, quando não se sabe que cidade e mar são parte de um todo que não se encerra no cabo das tormentas, que vai para além do fim do mundo que é a cidade, dobrando o Bojador como se dobram as esquinas de todos os dias, fazem-se as obras que se estão a fazer na Avenida do Mar. Quando se é ignorante, ignora-se a cidade. Quando se é ignorante, fazem-se portos para lado nenhum, constroem-se muralhas de medo, transformam-se caminhos abertos em postos fronteiriços. Quando se é ignorante, não se devia governar.

PS: tudo isto vem a propósito de uma subida, ontem, ao terraço mais alto do Forte de Santiago. E ao cenário dantesco formado por uma praia que já não existe, por uma avenida que deixará de existir, pelo mar que se separará de nós por um muro de imbecilidade. É uma reacção ao cenário envolvente.

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