Repensar a Cultura na Madeira

Quando tento definir a política cultural seguida na Madeira, nos últimos anos, lembro-me sempre de um livro de contos de Bukowsi, sobretudo do título, "A Sul de Nenhum Norte". Creio não haver melhor imagem para ilustrar a falta de estratégia e sobretudo, a incapacidade de perceber que o mundo mudou e por consequência mudaram também os paradigmas de gestão cultural e das indústrias criativas. O drama, meus caros, não é a falta de dinheiro. O drama é a incapacidade para pensar o fenómeno cultural e criativo de forma articulada, definindo objetivos claros, tendo sempre em consideração que o mundo globalizado (plano, como bem definiu Friedman) oferece oportunidades a quem se souber posicionar corretamente, mas acarreta também riscos imensos. Não creio que exista má vontade por parte de quem tem a responsabilidade de definir uma política cultural na Região. Existe, pura e simplesmente, uma inadequação das estratégias seguidas face ao tempo em que vivemos, inadequação essa que resulta da falta de capacidade de diálogo, da falta de criatividade e, porque não, da politização (eu diria partidarização) do sector. Se o Governo Regional ouvisse os parceiros internos e externos e procurasse perceber que o mundo não acaba na Ponta de São Lourenço, não estaríamos na situação atual. É dessa falta de abertura e de capacidade para ouvir e entender o outro que todos nos devemos queixar. Mas é fundamental passar do lamento à ação e definir estratégias para uma sociedade que, em breve - espero eu - ver-se-á livre das amarras impostas por um estilo e por uma forma de governação datadas. É urgente repensar a Madeira também nas sua vertente cultural e criativa. O debate é responsabilidade de todos, devendo ser os agentes culturais os seus principais protagonistas. Nos tempos que correm, procurar agarrar o nosso destino é um dever cívico.

Artigo de Opinião publicado na edição de hoje do Diário de Notícias

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