Madeira lado A versus Madeira lado B


Excelente texto da Paula Almeida, que por cá esteve nos últimos dias. Às vezes, um sereno olhar de fora permite-nos ver mais cabalmente aquilo que se passa cá dentro.


Madeira Lado A

A Madeira é um jardim. É, sim senhor. Não faltam flores, plantas, jardins, mais ou menos exóticos… tudo devidamente cuidado e identificado. Como se fosse, efectivamente, um grande jardim botânico. Tem um clima fantástico (ainda mais quando se regressa agora ao Cont’nente), tem gente simpática e conversadora e divertida, tem o Maktub “boa onda” no Paul do Mar e o Centro das Artes Casa das Mudas na Calheta, tem o Projecto Arte Portas Abertas no Funchal, e a poncha, o bolo de mel, as espetadas, as lapas, o vinho Madeira e o Carlos Correia que usa um barrete de Pai Natal e assa leitões à Bairrada mesmo na baixa da cidade, onde também há a Livraria Esperança, o Madeira Story Centre, O Ginjinhas, o Lido e os seus hotéis, o bailinho e os vilões com os seus fatos coloridos e únicos e os cruzeiros sempre a partir e a chegar com milhares de turistas… tem tudo para ser um sucesso. E é.

Madeira Lado B

Mas a Madeira é, também, “o” Jardim. E à sua semelhança está gasta, cansada, há demasiado tempo com os mesmos e sem o fulgor e o fôlego que, por norma, enchem os que começam de novo algum projecto… ou um novo projecto. Senão, como se explica que num destino turístico por excelência (e que diz ser de excelência), no Posto de Turismo do Funchal, o único, creio, haja funcionários que desaconselham visitas a museus por os considerar desinteressantes… ou que os ditos museus abram apenas de segunda a sexta ou de terça a sábado (e caros que são…), não falando nas igrejas que se apanham abertas por mera sorte… E já não falo nos três euros que custa uma água ou na bica a um euro, porque os milhares de alemães que por lá andam podem pagá-los, ou em “grandes” obras que, afinal, mal projectadas, para nada servem e estão ao abandono… Mas já me apetece falar na falta de profissionalismo do pessoal de terra da zona de partidas do aeroporto, que com um autocarro disponível, mesmo à beira dos passageiros, decide que estes têm de ir para o avião a pé… à chuva (pouca, disseram eles, copiosa, digo eu que consigo ver a diferença…). Como se dissessem, bom, já vieram, não já?, então agora ‘andeca’ que já não precisamos de vocês para nada; enquanto ao lado, mesmo ao lado, grandes sorrisos distribuíam vinho da Madeira e chocolate a quem chegava… A Madeira é um jardim. É, sim senhor. Mas é um jardim que precisa, com urgência, de um novo arquitecto paisagista.


Paula Alexandra Almeida

Comentários