Nem campainhas de portas!




Só entre 2008 e 2012, a Fundação Madeira Classic (FMC) recebeu, do erário público, cerca de 5 milhões de euros para pôr em funcionamento a Orquestra Clássica da Madeira (OCM). Foi extinta no final de 2012, após seis anos de atividade, com um capital de 151.685 euros, quando o capital inicial era de 989.450 euros. Quando teve de apresentar contas à Inspeção Geral de Finanças sobre os apoios recebidos entre 2008 e 2010, declarou um valor inferior em 800.000 euros face aos montantes publicitados no Jornal Oficial (JORAM). Ainda na passada terça-feira, uma notícia publicada no Diário dava conta de vários desperdícios de verbas. A FMC falhou quase todos os objectivos para as quais foi criada. Não atraiu mecenas para ajudar a financiar a Orquestra. Não contribuiu, em nada, para fazer da OCM um projeto sustentável. Encerrou deixando dívidas e sem que ninguém fosse responsabilizado por absolutamente nada do que por lá se passou, como é habitual. Pior, o Sr. Governo, como é seu velho hábito, não aprendeu rigorosamente nada com o caro e estrondoso falhanço e não foi de modas: criou uma associação que funciona num modelo em tudo semelhante ao anterior, ou seja, insiste numa espécie de Fundação Madeira Classic recauchutada, uma associação que conta com representantes do Executivo e do Conservatório e que controla a Associação Orquestra Clássica da Madeira. A ânsia de "tocar todos os instrumentos", de tudo controlar, levará, e nem é preciso ser maestro para perceber, a mais um coro de desafinação. O pior é que será um coro muito, muito caro. Se para um profissional é impossível tocar trompete e violino ao mesmo tempo, imagine-se para um Governo que não sabe tocar nem campainhas de portas!

Artigo de opinião publicado na edição de hoje do Diário de Notícias da Madeira.

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