Bakunin joga a lateral direito?



Elas não tinham idade e vendiam t'shirts com velhos motivos anarquistas. Na sala do Clube de Excursionistas do Minho. Na Mouraria. Durrutia. Apelos à insubordinação. T'shirts pretas, como as camisolas sem idade que elas traziam vestidas T'shirts azuis, como um dos pares de olhos de quem vende e como os olhos de quem observa. T'shirts verdes, contrastando com um sinal de proibição, serenamente respeitado. Elas conversam sem sobressaltos, misturando o português de Lisboa com o inglês de lado nenhum. Ao lado delas, as bancas estão cheias de livros em espanhol. A história do anarquismo. Marx. Novamente Durrutia. A História da Insurreição Internacional. As memórias da Guerra Civil de Espanha escritas por Orwel. Morris. Bakunin. As opiniões de Proudhon sobre a propriedade. Thoreau. Ao lado dos clássicos estão fanzines. E edições de autor. O espectador folheia algumas, ao acaso. O Facebook como instrumento dos libertários de direita. A invenção do telefone móvel como instrumento de opressão e de condicionamento criado pelos liberais-fascistas (sendo que quem não perceber esta tese não entende nada das dinâmicas económicas, lê-se na introdução à obra). Na sala apertada vagueiam tipos sem idade. Todos eles intérpretes fiés dos códigos de pertença exigidos pela tribo para os considerar membros de pleno direito. Sobre todos eles, há um nicho com uma imagem de Nossa Senhora, iluminada por uma eterna vela eléctrica e adornada com flores de plástico, colocadas dentro de uma jarra de vidro. Sobre todos eles, sobre os olhos azuis de quem vende, sobre Durrutia e Bakunin, sobre Orwel e sobre as opiniões de Proudhon e Thoreau, sobre os códigos, reinam dois quadros com a Avé Maria bordada a letra de escola. Na rua discute-se o Benfica.

(Bakunin joga a lateral direito?).

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