Ideias para a Cultura no Funchal.

Artigo de opinião publicado hoje no Diário de Notícias do Funchal. Uma proposta de política cultural para o Funchal.

"Vou armar-me em “gajo muito sério” e dar um pequeno contributo para aquele que, acredito, deve ser um programa para a Cultura no Funchal. Começando pelo começo, é fundamental que uma próxima vereação faça o óbvio, ou seja, mapeie o ecossistema cultural e criativo da cidade. Há que saber o que existe, quem faz o quê, que infraestruturas estão disponíveis e que espaços podem ser potenciados. O tempo da aventura e do experimentalismo esgotou-se e, se o retorno da economia cultural é evidente em cidades como Londres e Berlim, nós por cá, à nossa dimensão, continuamos a menosprezar oportunidades concretas de posicionamento do Funchal no mapa geocultural contemporâneo. Entretanto, para não perder muito tempo, é bom encontrar um foco, criar condições para a fixação e atracção de talentos, apostando, por exemplo, em residências artísticas, estruturas que só beneficiam das óbvias mais-valias da cidade (clima, localização, dimensão, qualidade de vida). A Pedra Sina é um bom exemplo. Depois de conhecer o que existe, o que nos valoriza e diferencia, devemos olhar para o turismo criativo como uma oportunidade, já que é uma das áreas que mais tem crescido no mercado europeu. E, se não apostar, pelo menos facilitar a vinda (e a vida) daqueles que procuram encontrar experiências genuínas nos destinos que elegem para as suas férias, em oposição a artifícios e simulacros culturais, que mais não passam do que cenários para a fotografia da praxe. Como se faz? Por vezes, através de atos tão simples como desenvolver um bom guia cultural, não só para os de cá, mas também “prós ingleses”, com boa e eficaz distribuição (on e off line) e que defina roteiros temáticos, actualizados e atuais. Fazer política cultural é mais do que produzir eventos pontuais e despesistas, é trabalhar de perto com os agentes culturais, é ser facilitador e potenciar parcerias, reutilizando espaços ao invés de esperar que a degradação os derrube, cedendo-os entidades culturais cujas actividades permitam abrir portas e oportunidades à comunidade. Um teatro ou um atelier aberto emprega artistas e produtores e carpinteiros e empregados de limpeza. Não falamos de elites, falamos de comunidade, falamos de política cultural, de bilheteira, de valor humano, de identidade. Falamos de, decididamente, investir numa área através da qual nos possamos diferenciar. O contrário é investir em todas não investindo em nada."

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