Criatividade e dinamização urbana (e futurismo)



Numa cidade como o Funchal, a cultura e as industrias criativas podem servir como motor de dinamização urbana? Não só podem, como devem. A capital da Região, como qualquer outra cidade, tem espaços públicos e privados que não estão rentabilizados, alguns estão mesmo abandonados, ameaçando degradarem-se irreversivelmente. Numa época de crise, o conceito de reutilização, mais do que o conceito de recuperação, ganha contornos de enorme importância. Aqui e na China. É nessa ideia, de reutilização de espaços, que a Câmara Municipal (CMF) deve apostar e, nesse sentido, as industrias culturais e os projetos criativos desempenham papel central, pois poderão dinamizar edificações, atraindo públicos e desenvolvendo mecanismos de participação comunitária. Como fazê-lo? Trocando por miúdos, cá ficam três propostas. Através de concurso público, a Câmara Municipal do Funchal deve ceder espaços sem utilização a instituições culturais e para o desenvolvimento de projetos criativos. Os concursos devem valorizar a existência de estratégias de desenvolvimento comunitário e de parceria nos planos apresentados. A autarquia deve garantir condições de segurança nos espaços cedidos. Em segundo lugar, urge descentralizar as praticas culturais. A Cultura e os projetos criativos devem ser encarados como forma de dinamizar diretamente locais da cidade, atraindo públicos a zonas que hoje não são vistas como sendo atrativas. Tudo isto implica negociação, criatividade e um correto aproveitamento dos programas comunitários para a recuperação urbana. Mas exige também um conhecimento profundo da cidade, ou seja, é urgente fazer um levantamento do património imobilizado municipal (edificado municipal). Sem esse levantamento, qualquer estratégia como esta que é aqui apontada lembra-me um verso de Noel Rosa e de Lamartine Babo, num samba intitulado A.B.Surdo: “É futurismo, menina, é futurismo, menina, pois não é marcha nem aqui nem lá na China”.

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