Colere e Colligere

A palavra Cultura advém do verbo latino Colere, que genericamente significa Cultivar.

Aprecie-se a parecença com a expressão Colligere, que aportuguesada se transformou no verbo Colher.

As semelhanças entre Colere e Colligere indiciam a ligação direta entre os atos de cultivar e de colher.

Thomas Mann dizia que a ordem e a simplificação são os primeiros passos para entender qualquer coisa. Aceitemos e comecemos por simplificar, mantendo inalterada a regra que nos diz que Colere está antes de Colligere.

Sigamos as pistas dadas pela génese da palavra.

Cultura é cultivar. Cultivar informação, ideias, hábitos, crenças... Cultivar traços da vida, traduzindo-os para uma linguagem de partilha. Cultivar para colher.

Para cultivar é necessário substrato. As árvores não nascem sem terra e não crescem sem água.

Deixando a botânica para outra ocasião e partindo para a essência deste debate, pergunto:

- Qual será a tarefa essencial de uma autarquia no processo cultural?

Aproveito a oportunidade e respondo:

- Deve procurar, dentro das limitações legais, dos limites orçamentais - tão na moda nos dias que correm - e das fronteiras do bom-senso, incentivar a criação ou a manutenção do substrato e desenvolver formas que permitam garantir que aquilo que germinar não morre de sede.
Thomas Mann diria, simplificando:

- Deve participar no enorme ato de cultivar.

Apresentado o problema, iniciaremos uma curta viagem que nos levará a hipóteses de resolução. Sem esquecer que numa viagem, o viajante é aquilo que mais importa.

Partiremos na companhia de Nuno Morna, um ator que também escreve, realiza e produz. De Rui Camacho, músico, dirigente dos Xarabanda e divulgador da música e das práticas culturais da Madeira. De Filipe Ferraz, um realizador que também toca e canta.

Atrevo-me a indicar algumas coordenadas, desconhecendo se serão aceites pelos ilustres passageiros. Cinco etapas que considero essenciais para a definição de uma política cultural no Funchal:

- Mapear o ecossistema cultural e criativo da Cidade. A autarquia deve saber aquilo que existe, quais são as potencialidades culturais e criativas do Funchal e quais são as menos-valias;

- Definir uma estratégia para captar e fixar talentos;

- Promover o empreendedorismo cultural através de uma política de apoios centrada na criação e não exclusivamente no evento;

- Legitimar a programação e os agentes culturais existentes;

- Utilizar a Cultura como instrumento de dinamização urbana e de atração de riqueza;

Cultivar para um dia colher, mantendo inalterada a ordem natural das coisas.

Desejo-vos uma boa viagem. Por favor, não apertem os cintos de segurança.*

* Texto escrito para a Mesa Redonda "A importância da cultura e das industrias criativas na economia da Cidade", que se realiza esta tarde, no espaço "Somos Todos Funchal".

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