Coragem

“O incumprimento dos limites originais do programa para o défice e a dívida, em 2012 e 2013, foi determinado por uma queda muito substancial da procura interna e por uma alteração na sua composição que provocaram uma forte quebra nas receitas tributárias. A repetição destes desvios minou a minha credibilidade enquanto Ministro das Finanças.(...) O nível de desemprego e de desemprego jovem são muito graves. Requerem uma resposta efetiva e urgente a nível europeu e nacional. Pela nossa parte exigem a rápida transição para uma nova fase do ajustamento: a fase do investimento. Essa evolução exige credibilidade e confiança. Contributos que, infelizmente, não me encontro em condições de assegurar. (...)”

Quem o escreveu foi o anterior Ministro das Finanças, Vítor Gaspar, justificando assim a sua saída do Governo.

Gaspar admitiu os erros e foi claro quando referiu, à semelhança daquilo que o CDS-PP defendera há muito tempo, que era chegada a fase do investimento. Admitiu também que não tinha credibilidade para a conduzir.

Quando se esperava que o Primeiro-ministro nomeasse para a pasta das Finanças alguém com a credibilidade exigida, Passos Coelho optou por uma personalidade com perfil técnico, sem peso político e ferida pelos contratos SWAP e pelas PPP, deixando claro que queria prosseguir as políticas de Vítor Gaspar, que o próprio admitiu que falharam.

Perante o cenário aqui traçado, não restava, ao líder do CDS-PP, outra alternativa que não abandonar o Governo. Não se pode governar indefinidamente contra as nossas próprias convicções. Não se pode manter uma rota que se sabe que não levará a bom porto.

A demissão de Paulo Portas foi um ato de coragem, porque significou dizer não quando era mais fácil dizer que sim e fingir que nada tinha a ver com o assunto.

Muito me espanta, por isso, que alguma esquerda venha agora atacar o Presidente do CDS-PP quando já apresentou moções de censura na Assembleia da República e quando vem gritando, há mais de um ano, que o Executivo deve cair. Só o medo de ir para o Governo, sabendo que tudo aquilo que se promete em comícios mais ou menos encenados será contrariado pela realidade, realidade essa que obrigará os salvadores de agora a transformarem-se em algozes, à semelhança daquilo que se passou, em França, com Hollande, justifica alguns dislates.

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