Emprendedorismo Cultural

Sendo o “evento” o culminar de um processo criativo, compete a uma Câmara Municipal apoiar o segundo em detrimento do primeiro. Clarificando: - uma autarquia como a do Funchal deve fomentar o empreendedorismo cultural e para o fazer, tem obrigatoriamente de utilizar parte substancial do orçamento para a Cultura no apoio a quem cria, e não na sustentação de eventos. Deve trabalhar em proximidade com os criadores e com as associações locais, constituindo-se como elemento facilitador, como parceiro e como motor de parcerias internas e externas. Deve ter critérios claros, plasmados num modelo conhecido de todos os interessados, evitando a possibilidade da partidarização que a discricionariedade promove no campo cultural e criativo. Não duvido, porém, que alguns eventos são mais valias óbvias para a Cidade, pois aumentam a sua visibilidade externa e o seu substrato criativo, contribuindo ainda para gerar negocio. Mas há que aprofundar, também para a definição do apoio aos eventos, uma grelha de análise que ajude a diminuir a arbitrariedade na tomada de decisão. É fundamental que uma política cultural se baseie na transparência, na clareza de métodos e de procedimentos e no diálogo constante com quem cria. Fomentar o empreendedorismo cultural é também trabalhar em rede com parceiros externos, que permitam que criadores da Cidade toquem, exponham, editem ou apresentem trabalho fora da Região, dando-lhes assim possibilidade de caminharem por si, aproveitando as oportunidades que se geram em mercados maiores. É também procurar integrar o Funchal em redes de cidades ou de regiões, sem megalomanias, fomentando o intercâmbio. Resumindo e concluindo, desenvolver o empreendedorismo cultural passa por direcionar a “mira” orçamental para a “criação” e não para o “evento”, sem fundamentalismos, mas com clareza.

Artigo publicado na edição de hoje do Diário de Notícias.

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