Património

Texto introdutório escrito para a conferência desta tarde, sobre património, no Espaço "Somos Todos Funchal". Às 18:30.

“O espaço é mais abstrato do que o lugar. O que começa como espaço indiferenciado, transforma-se em lugar à medida que o conhecemos melhor e o dotamos de valor. (...) Além disso, se pensamos no espaço como algo que permite movimento, então o lugar é pausa: cada pausa no movimento torna possível que a localização se transforme em lugar”.

Parto da reflexão de Tuan, geógrafo sino-americano, para chegar à ideia de património e à vital importância de sair em sua defesa. Falo, claro, do património material e imaterial, de todos os lugares de memória que são sempre, por definição, um conjunto que engloba os registos e as suas transcendências, exigindo por isso uma vontade de memória.

Assim sendo, essa transformação de espaço em lugar requer uma apropriação. A pausa existe porque existiu um movimento anterior. A apropriação faz-se dotando o espaço de sensações, que se transformam em memória, afeição.

É a memória que eterniza os lugares, como referencias, cenários. É essa eternização que permite revisitar o passado. Percebemos assim facilmente que os sítios, as vilas e cidades, os países e continentes, acumulam memórias que constroem lugares, sendo esses lugares os verdadeiros construtores das identidades e das singularidades, resumidamente, o verdadeiro património cultural de um povo.

O historiador francês Pierre Noa definiu o conceito. “Les Lieux de Mémoire”, símbolos de outros tempos que, passo a cita-lo, “emprestam ritual a uma sociedade desritualizada”.

É essa uma das principais funções do património. Emprestar ritual a uma sociedade cada vez mais, atrevo-me a dizer, desritualizada.

Uma sociedade que não protege o seu património é uma sociedade que perde a sua memória, perdendo assim toda a sua singularidade, toda a sua identidade.

Uma sociedade que não cuida do seu património é uma sociedade que não cuida dos seus afetos.

Comentários