Eusébio e o Panteão Nacional

Já me questionei sobre a ideia de colocar os restos mortais de Eusébio no Panteão Nacional e devo confessar que não cheguei a uma conclusão definitiva.

O Eusébio, tal como a Amália, são os maiores heróis populares portugueses do século XX. São, indiscutivelmente, quer se valorize mais ou menos as suas actividades, os elementos mais representativos da cultura popular lusa do século que acabou.

Eu não compararia, como já vi comparados, os casos de Eusébio e de Amália ao de Aristides Souza Mendes, que não se encontra no Panteão, bem como aos de Sidónio Pais, ou de Carmona, que estão. Pura e simplesmente porque a escolha das personalidades que repousam no Panteão é também a materialização da forma de pensar e de sentir de um determinado momento histórico. A percepção sobre Sidónio, aquando da sua morte, era muito diferente da actual, por exemplo, o que é igual para o caso de Carmona.

O certo é que vivemos numa época em que, universalmente, a cultura popular assumiu a primazia em detrimento de manifestações mais eruditas e em detrimento da política. Nesse sentido, enquanto ícones da tal cultura popular, dominante na actualidade - fenómeno universal, igual na América, na China ou na Patagónia -, não me choca que as duas figuras descansem no Panteão nacional.

Chateiam-me mais as análises simplistas, porque a questão merece uma reflexão sobre o que são símbolos nacionais no século XXI - o conceito de símbolo nacional é mutável, evolui ao longo da construção de qualquer nacionalidade, é variável conforme o momento histórico -, sobre a importância da cultura popular para a construção de uma identidade portuguesa - nos EUA é vital, por exemplo, daí o estatuto de heróis nacionais que têm o John Wayne, o Elvis, a Marlyn -, entre outras coisas.

Parecem-me simplistas as análises dos partidos políticos, que procuram aproveitar a "onda de choque" que a morte de Eusébio provocou. Tal como me parece simplista a análise de quem diz que não porque é, "apenas", um jogador da bola.

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