Neste entardecer vermelho da cidade, o que agora se recomenda é a cegueira, há olhos de vidro para todos. Mas os pregos do caixão troam especialmente por aqueles que querem construir a sua felicidade dançando ao som de uma canção em que a gente se farta do mundo.
A frase foi retirada de Hoje preferia não me ter encontrado, da romena Herta Muller, prémio nobel da literatura.
O romance é de 2009 e fui publicado em Portugal em 2011. Muller transporta-nos em círculos, numa obra notável. Tendo por cenário a Roménia comunista, Hoje preferia não me ter encontrado mostra-nos a desagregação de uma sociedade privada de liberdade, a falta de esperança quando todos, ao mesmo tempo, são vigilantes e vigiados.
Mordaz, duro, pessimista, o romance transporta parte da experiência da autora enquanto vítima da imbecil ditadura de Ceauşescu.
Hoje preferia não me ter encontrado é altamente aconselhável.
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