Retrospectiva

Chego ao café, olho para a televisão e vejo o Cristiano Ronaldo no ar, tronco direito como uma prancha, a executar um pontapé de bicicleta que só foi sustido a muito custo pelo guarda-redes, que voou para impedir a materialização lógica de um momento magnífico.

Não era um programa retrospectivo, daqueles que enchem todos os ecrãs no fim de Dezembro, mostrando as melhores imagens do ano que acaba. Era um jogo transmitido em directo, sem filtros, que fiquei a ver.

Ao minuto 57, zero-zero. Ronaldo recebe a bola à entrada da área, rodeado por quatro adversários com a faca nos dentes. Qual toureiro, simula como corpo. Simula outra vez quase sem tocar na bola e de repente, encontra um espaço por onde chuta. Desta vez, de nada valeu o voo do guarda-redes.

Não era um momento retrospectivo. Ou melhor, talvez fosse. Porque Ronaldo faz de cada jogo uma espécie de retrospectiva do melhor que o futebol já mostrou.

PS: aos 85 minutos, quando os adversários só queriam que o tormento acabasse e quando os brancos já sonhavam com as delícias da noite de Madrid, havia um tipo em campo que continuava a correr, pedindo a bola a gesticular e mostrando-se irritado quando não lha passavam...



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