Portugal - A Flor e a Foice

- Mas então os vossos pais - ouvi eu uma anciã perguntar desconfiada a uma rapariga que numa parede colava um cartaz "O poder ao povo" - deixam-na andar por aí sozinha, a dormir nos palheiros, junta com os homens? 

- Deixam. Não tem mal nenhum. O importante é que vocês se consciencializem.

A velha não compreendeu. Mas benzeu-se e foi à sua vida.

Este é apenas um dos muitos episódios que José Rentes de Carvalho conta em A Flor e a Foice, obra publicada em Portugal 39 anos após ter sido editada na Holanda, país de adopção do romancista e ensaísta português.

Com uma visão queirosiana sobre a História de Portugal e denotando algum desencanto com o rumo que em 1975 o 25 de Abril levava, o livro de Rentes de Carvalho lê-se de um folgo só.

Embora eu não partilhe de algumas das ideias do autor, louvo-lhe a originalidade e a coragem de questionar todos os mitos da História de Portugal, bem como muitas das ideias feitas sobre a revolução de 25 de Abril e sobre alguns dos seus principais protagonistas. 

Observador sagaz, homem culto, Rentes de Carvalho constrói um documento ao qual o tempo dá actualidade e que aponta originais caminhos de análise ao nosso passado colectivo.





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